Memória e Cozinha

Vitor Correia
5 min readAug 22, 2023

Histórias que se completam e, apesar de suas divergências, formam uma só: a paixão pela doçura de cozinhar

Açúcar, 3 xícaras de farinha de trigo, margarina, leite, ovos e uma pitadinha de fermento em pó. A mistura desses ingredientes por si só não é chamativa o suficiente para despertar o olhar de alguém mas, quando combinados, a junção de suas cores e sabores provoca diversas sensações. A relação com a comida pode fazer com que a vida de alguém mude completamente.

Biba Retamozo: A doçura de se comunicar

Um exemplo disso aconteceu no sul do país, na região de Auxiliadora, em Porto Alegre (RS), no Maria Bolachinha, lugar em que são confeccionados docinhos como alfajores, brownies e tortas para eventos. Um ateliê criado pela também jornalista, Biba Retamozo, de 38 anos.Formada em Comunicação Social pela PUC-RS, trabalhou em um veículo de notícia onde funcionários tinham como tradição levarem docinhos para saborearem na redação. Biba, por levar seus quitutes frequentemente, ficou responsável pela entrega de doces.Desde então foi se germinando um gosto pela cozinha, principalmente a confeitaria, o que resultou na ideia de vender algumas de suas gulodices enquanto continuava em seu emprego.Chegou em um ponto em que percebeu que gostaria de seguir seu caminho apenas na Gastronomia e passou a planejar sua mudança de área durante um tempo, ou seja, precisou estudar, se aperfeiçoar e também juntar dinheiro.Agora é formada como cozinheira, padeira e confeiteira pelo Senac do Rio Grande do Sul e especialista na gestão da segurança de alimentos pelo Senac de São Paulo.A Maria Bolachinha tornou sua rotina mais leve, por ser flexível, mas não deixa de ser um trabalho árduo que pede muita dedicação.

“Tenho maior gratificação pessoal cozinhando e adoçando a vida das pessoas, prefiro do que trabalhar com conteúdo jornalístico. O sorriso estampado no rosto do cliente depois de comer um doce não tem preço”

Uma das coisas que mais valoriza nos quitutes que produz é a doçura da infância que está presente em cada um de seus doces, mas também procura usar ingredientes saudáveis e orgânicos, fazendo com que o cliente aproveite tudo sem culpa. Hoje em dia a confeiteira está no meio do processo de construção de uma fábrica de sobremesas. Com a ajuda de um sócio, responsável pela parte de gestão, ela está conciliando sua vida entre preparar a comida de eventos e cuidar da obra civil de sua nova empresa, que tem previsão de abertura ainda para o primeiro semestre de 2019.

Fernando Nogueirol: Culinária sem fronteiras

Fernando Nogueirol, formado Comunicação Social pela Anhembi Morumbi, passou grande parte de sua vida trabalhando em uma agência de publicidade, mas com a intenção de investir em outra área, aos 38 anos, se reuniu com quatro amigos para montar um restaurante.

Mesmo com grande movimento, eles não lucravam com o local. Pelo contrário: gastavam. Então passaram a ter dívidas e estavam destinados a fechar, mas Fernando decidiu assumir as despesas e continuar com o restaurante sozinho.

Sendo obrigado a largar seu emprego, precisou sair de sua zona de conforto para atuar em uma área completamente desconhecida, na verdade, desconhecida até demais. “Até então, eu não possuía interesse pela culinária, não sabia cozinhar e nem entendia o funcionamento do ramo”, confessa.

Fernando é filho de um espanhol com uma baiana, ambos trabalharam com cozinha. Sua mãe cozinhava muito bem, ela servia os generais durante a Ditadura, e ele via o tanto de comida que ela precisava fazer, sendo um dos motivos por ele nunca ter se interessado por culinária. Mas mesmo tentando fugir disso, admite:

“Acabei vendo que tá no sangue, não tem jeito”

Na sua jornada solo, ele sentiu a necessidade de buscar todo o conhecimento que precisava, fez cursos de gerenciamento de restaurantes, mas também achou que precisava saber comandar uma cozinha, então começou a cursar Gastronomia na Anhembi Morumbi. “Vou fazer isso somente para tocar meu restaurante, eu vou entender o que esses caras estão falando porque ninguém vai me enrolar”.

Foi durante o curso que “pegou gosto pela coisa”, tanto por doces quanto salgados. Em 2008 participou e ganhou um concurso da Colavita que dava a oportunidade de viajar para Molise, na Itália, conheceu os processos de produção da empresa, visitou os principais restaurantes da área e foi recebido na Câmara dos Vereadores de lá. Em sua opinião, este foi um dos melhores momentos de sua carreira, “olha isso, olha onde eu estou por causa da minha comida”. Com esse reconhecimento percebeu que era isso que queria para sua vida, “aí o restaurante ficou pequeno demais pra mim”, então após se formar, o vendeu e foi para a Espanha fazer sua pós-graduação em Cultura Europeia e Gastronomia Mediterrânea na Escuela de Hosteleria de Sevilla durante um ano, enquanto simultaneamente trabalhava em restaurantes.

Atualmente, com 50 anos e 12 deles trabalhando com culinária, Fernando tem uma empresa de catering, ou seja, que se encarrega fazer pratos, aperitivos e sobremesas de eventos corporativos, casamentos, aniversários, camarim de artistas e até camarotes de carnaval. Sua vida agora transita entre Salvador e São Paulo, e prefere desse jeito, pois não gosta de rotinas fixas e por isso não trabalha mais com restaurantes. “Aparece um evento ai em São Paulo, pego um avião e vou ai, ai volto pra cá, não tenho rotina, eu gosto disso”. Hoje sua paixão por culinária está na recepção das pessoas e seu impacto: “é esse poder de você se comunicar com as pessoas e passar uma mensagem através da comida”.

Texto realizado para a disciplinas de Laboratório de Redação e Design Gráfico lecionadas, respectivamente, pelo professor Rodrigo Ratier e pela professora Cândida Almeida

Por: Carolina Grassmann e Vitor Correia

Matéria presente na Revista Dendê, projeto realizado para a disciplina de Design Gráfico

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