Caminhos da Introdução Alimentar
Estratégias para trazer uma alimentação saudável aos pequenos desde o berço
Uma das fases da vida que mais precisa de atenção é a primeira infância, principalmente quando falamos de alimentação, pois será esta que poderá prevenir doenças tanto nesta idade quanto na adulta, desenvolver o paladar e as funções cognitivas. Por conta disso, a Dendê decidiu conversar com profissionais das áreas de pediatria e nutrição, além de alguns pais para entendermos melhor como funciona a Introdução Alimentar.
Tudo começa como aleitamento, que, se iniciado de forma precoce, dentro de uma hora após o nascimento, pode reduzir a mortalidade neonatal. Os benefícios não param por aí, o leite materno fornece proteção contra infecções gastrointestinais e desnutrição, sendo uma importante fonte de energia e nutrientes. Crianças e adolescentes que foram amamentados quando bebês são menos propensos a terem excesso de peso ou obesidade. A Organização Mundial de Saúde (OMS), junto ao Unicef são taxativos: bebês de até seis meses devem ser alimentados exclusivamente com o leite materno.
Nem sempre isso é possível. O que fazer? A fórmula láctea infantil é a alternativa mais recomendada. Elas são a melhor opção para famílias que não tem condições de amamentar ou para bebês intolerantes ao leite — nesses casos, é preciso procurar as fórmulas especiais. Apesar de não possuírem as mesmas propriedades que o leite materno, são a escolha menos prejudicial, e podem ser compradas ou adquiridas pelo SUS, seguindo as especificidades do profissional que acompanha o quadro clínico da criança. Foi o que fez Pablo Bizarri, pai do Samuel de 9 anos e da Helena de 3.
Os dois filhos nasceram com alergia ao leite materno, mas, seguindo a orientação médica, Bizarri e a esposa receberam as fórmulas após preencherem a documentação do SUS. Ele conta que a média de espera para a entrega era de 30 dias. “Nas fórmulas também ocorre a modificação do teor dos minerais, tentando aproximá-los do leite materno”, comenta a nutricionista e pesquisadora da UNIP, Carolina Pimentel.
Alimentos complementares
Após os seis meses começa a introdução dos alimentos complementares, que, como o nome já diz, irão complementar, e não substituir o leite. “A gente inicia pelas frutas, mas preferimos não começar pela forma de suco, e sim amassadas, quase um papa ou purê”, nos conta a pediatra Nathalia Gioia, que trabalha no Centro de Dificuldades Alimentares do instituto de pesquisa do Hospital Infantil Sabará (PENSI).
Em alguns casos a introdução começa aos 5 meses, voltemos a falar de Samuel e Helena, que, por serem alimentados com fórmula tinham dificuldade em ganhar peso, logo, precisaram fazer a iniciação com os alimentos complementares antes. Algo similar nos contou Michelle Kodama, mãe da Carolina de 8 meses. Após 5 meses ela sentiu que seu leite não supria mais as necessidades da filha. Sendo orientada pelo pediatra passou a dar frutinhas para a bebê, que voltou a engordar.
Depois do purê de frutas, já no sétimo mês, é incluída a papa principal, que corresponde ao de almoço e janta para uma criança mais velha, inicialmente uma vez ao dia, e então, a partir do oitavo mês coloca-se um segundo horário. “Essa papinha era antes conhecida como “papa salgada”, mas o termo sugere uma adição de sal que não deve ser feita” nos lembrou a pediatra. Ela deve conter todos os grupos alimentares, de macro e micronutrientes, que uma criança dessa faixa etária precisa para se desenvolver, sendo elas proteínas, carboidratos, legumes, verduras, grãos e leguminosas — o importante é ter ao menos algum alimento de cada categoria no decorrer do dia. Do sexto mês até o primeiro ano de vida, quando o bebê passa, gradativamente, a comer o mesmo que o restante da família, a oferta de aleitamento vai perdendo espaço e horários, enquanto a papa e as frutas ganham.
Lembre-se: a introdução alimentar é um processo gradual. Mesmo a criança tendo seis meses, ela ainda não tem ideia do que é receber comida pela boca, então não vamos pressioná-la, como alerta Pimentel. Neste período é muito comum a criança rejeitar novos alimentos, o que não significa uma aversão permanente da criança a tal, visto que, em média, a criança precisa ser exposta a esse alimento de oito a dez vezes para que tenha uma boa aceitação. Introduza um por vez, de três a sete dias.
Uma outra recomendação do Departamento de Nutrologia da SBP é a importância de explorar a alimentação feita com as próprias mãos da criança, fazendo com que ela conheça as texturas diferentes e aprimore seu aprendizado sensório-motor. Toda refeição deve ser feita com o bebê sentado adequadamente, e preferencialmente sem algum tipo de distração, como televisões ou brinquedos.
Há também opções a se evitar. O suco não é recomendado porque alimentos líquidos ou diluídos fornecem menos energia e nutrientes, e também, alguns precisam levar açúcar, o que é completamente desencorajado por Gioia, pois, uma vez que a criança se acostuma com o gosto doce desde cedo, poderá ter dificuldade em aceitar verduras, legumes e outros alimentos, além de aumentar o risco de cáries.
Assim acontece com o sal, associado ao desenvolvimento de hipertensão arterial, e os alimentos processados, que trazem diversas complicações tanto a curto prazo, quanto na adolescência ou até na vida adulta, eles, além de reduzirem o apetite da criança e competir com as comidas nutritivas, estão relacionados à anemia, ao excesso de peso e às alergias alimentares. O mel também foi mostrado como um perigo na saúde de recém-nascidos, a bactéria Clostridium botulinum, que pode estar presente nele, produz toxinas na parede do intestino, causando botulismo e podendo, inclusive, ser fatal. A pediatra acrescenta que é importante uma família com bons hábitos alimentares para que aconteça o mesmo com a alimentação da criança.
Casos especiais
Vale, ainda, falar de casos especiais, como os de pais vegetarianos ou veganos, segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira, as mães vegetarianas e veganas devem ser tranquilizadas quanto à composição do seu leite, já que não existem diferenças significativas no leite produzido entre os grupos. A única observação é relacionada à vitamina B12, que merece uma atenção especial no caso de mães veganas estritas, pois essa só está presente em alimentos de origem animal e em alguns produtos enriquecidos, sendo o único nutriente que deve ser suplementado.
Pais com qualquer tipo de dieta que têm a preocupação de ser possível aplicar a mesma dieta para o filho nesta fase precisam frequentemente levá-lo para um acompanhamento com o pediatra, ou até nutricionista e nutrólogo, a fim de conseguirem propor uma alimentação saudável e responsável ao seu filho, promovendo uma vida com poucos riscos de doenças. Foi o que fez Beatriz Costa, mãe da Dora, de 4 anos, ela é vegetariana e, desde o neonatal, seguiu os conselhos dos especialistas, Dora cresceu e engordou sem grandes dificuldades, apenas com pequenos déficits de Vitamina D e Ferro que logo foram erradicados com a suplementação. Beatriz também conta que tudo na dieta da filha é negociado, assim, Dora se alimenta de forma saudável e também ganha alguns mimos doces que tanto gosta.
Texto realizado para a disciplinas de Laboratório de Redação e Design Gráfico lecionadas, respectivamente, pelo professor Rodrigo Ratier e pela professora Cândida Almeida
Por: Sabrina Andrade e Vitor Correia
Matéria presente na Revista Dendê, projeto realizado para a disciplina de Design Gráfico